O Cristianismo e o Sofrimento


O Homem é um ser frágil no seu substrato. Tanto que, por esta razão, é susceptível às doenças, à dor, ao envelhecimento e à mortalidade. A sua constituição física e estrutura psicossomática estão condenadas à degeneração. Esta debilidade no seu arcaboiço deve-se à sentença condenatória que lhe foi imputada aquando da sua impoluta criação no jardim do Éden, tendo em conta as desastrosas consequências do “pecado original” (LER). A partir daí, no percurso do Homem, entraram todas as desgraças mundanais que vão culminando na sua funesta morte. Estes flagelos humano-naturais não estavam previstos no perfeito e ideal mundo em que ele tranquilamente vivia no início e, tão pouco, no seu ADN. Foi tudo acidental. Ele apenas fora criado para viver em plena felicidade e usufruir da agradável companhia do seu Criador. Por isso, o Homem jamais estará preparado para encarar o insucesso, a enfermidade, a desgraça, o sofrimento e a morte. Apenas conta com o estado de felicidade e idealiza-o perenemente em todos os ciclos e vertentes da sua momentânea vida. O que é completamente natural, visto que para isso fora criado. Acontece que, pelas razões sublinhadas, o outrora imaculado destino do Homem ficou obliterado por culpa superveniente do próprio, dando assim lugar à calamidade no mundo. Dito por outras palavras, a inimizade, a tragédia, o sofrimento e a morte passaram  fatalmente a fazer parte do quotidiano do ser humano (LER)

Ora, tais calamitosas situações agravam-se consideravelmente quando se trata particularmente dos eleitos filhos de DEUS. O Cristianismo é uma religião pautada pela renúncia, intensos combates espirituais e sofrimento para assim poder ganhar a imarcescível Coroa da Glória (1 Pedro 5:4; 2 Timóteo 4:8). O símbolo dele é a Cruz e esta, em última instância, representa o sofrimento nas suas várias vertentes humano-antropológica, tal como foi o do Messias (ALI) e (AQUI). E quem quer ser fiel discípulo do Senhor Jesus deve, acima de tudo, estar preparado para carregar a sua Cruz e segui-Lo determinadamente até ao fim (Mateus 16:24). A Fé bíblica e o sofrimento estão visceralmente ligados e completamente indissociáveis, porque somos chamados soberanamente para o sofrimento  (1 Tessalonicenses 3:3) [Ler] e também [AQUI]. Consciente desta grande e inequívoca verdade soteriológica, o Apóstolo Paulo vai ao ponto de vincar que “nós sentimos alegria nos nossos sofrimentos, porque o sofrimento produz a perseverança; a perseverança provoca a firmeza de caráter nas dificuldades e a firmeza produz a esperança. Esta esperança não nos engana, porque Deus encheu-nos o coração com o seu amor, por meio do Espírito Santo que é dom de Deus” (Romanos 5:3-5). 

O sofrimento, diferentemente de uma visão epicurista, ímpia e mundana, é uma virtude Cristã. O sucesso de uma vida piedosa, bem-sucedida e feliz passa inevitavelmente por sofrimento, caso contrário é tudo fachada religiosa que consubstancia o herético “evangelho da prosperidade” que não tem qualquer tipo de acolhimento nas Escrituras Sagradas. Isto não quer dizer que os Cristãos são masoquistas, tal como alguns indoutos e inconstantes poderão precipitadamente distorcer para a sua própria condenação (2 Pedro 3:16). Apenas confirma a identificação e comunhão plena do crente com a essência da mensagem do Evangelho, máxime “conhecer a Cristo e experimentar o poder da sua ressurreição, tomar parte nos seus sofrimentos, chegando a ser como ele na morte, com a esperança de alcançar a ressurreição de entre os mortos” (Filipenses 3:10-11). O sofrimento é um precioso instrumento que o nosso Omnisciente DEUS usa para moldar a vida dos seus eleitos filhos e, deste modo, prepará-los espiritualmente para entrar no Céu – como aconteceu com os grandes heróis da fé (Hebreus 11:1-40). 

É verdade que há sofrimento resultante do pecado, como tem acontecido ao longo da História do Cristianismo. Apesar disso, sabemos que, independentemente do pecado, o sofrimento é algo que faz e fará sempre parte da vida do crente no Senhor Jesus Cristo. O sofrimento é manifestamente inevitável e indispensável na via-sacra Cristã, pois “é preciso passar muitos sofrimentos até entrar no reino de Deus” (Actos 14:22), razão pela qual não temos qualquer receio ou medo de sofrer e encarámo-lo com bastante fé e coragem, uma vez que maior é o que está em nós do que o que está no mundo e nas adversidades que vamos enfrentando neste “vale de lágrimas”  (1 João 4:4). Por isso, “sofremos em tudo dificuldades, mas não ficamos angustiados. Sentimos insegurança, mas não nos deixamos vencer. Perseguem-nos, mas não nos sentimos abandonados. Deitam-nos por terra, mas não nos destroem. Trazemos continuamente no nosso próprio corpo o sofrimento mortal de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nós” (2 Coríntios 4:8-10). 

O sofrimento, importa ainda frisar, não tem a palavra final na vida do Cristão. Os mensageiros de Satanás podem-nos desferir vários golpes e sobretudo  “espinhos na carne”, levando-nos em casos limites a atravessar o “vale da sombra da morte”, mas temos a certeza absoluta que o nosso Todo-poderoso DEUS está e estará sempre connosco para nos auxiliar naquilo que eventualmente precisamos para definitivamente triunfarmos, pois “muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (Salmo 34:19). Somos mais que vencedores por Aquele que nos amou e “estamos certos de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:38-39). 

É nesta inabalável certeza de Fé que vivemos, todos os dias, aguardando, sereno e pacientemente, a bem-aventurada esperança eterna (Tito 2:13; Filipenses 3:20-21). Louvado seja DEUS agora e para todo o sempre. Que assim seja; e assim será com a imprescindível ajuda de DEUS.