Considerações Pascais: A Via Dolorosa Para o Calvário V


Passaremos agora a analisar sucintamente as restantes aleivosias e vexames cometidos contra o Filho do Altíssimo DEUS na Sua Via-sacra para o Calvário. Desde logo, a II. A Injustiça. O Senhor Jesus Cristo ao ser traído, por tudo e todos ao Seu redor, abriu-se portas para ser simultaneamente objecto de inauditas arbitrariedades por parte “dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Romanos 1:18), que “ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” (Isaías 5:20). O processo acusatório que incidia sobre Ele, de início ao fim, estava completamente falsificado e viciado. A forma como foi preso e sentenciado é o exemplo manifesto disso. Não havia nenhum crime que o Filho do Homem praticasse que justificasse a condenação à morte (Isaías 53:9; 2 Coríntios 5:21), tal como o próprio Pôncio Pilatos reconheceu depois de atentamente interrogá-Lo (João 18:34-35). No entanto, tudo isto aconteceu porque odiaram-Lhe sem causa (Salmo 35:19; 69:4 ; João 15:25). O Príncipe da Paz (Isaías 9:6) não representava objectivamente qualquer tipo de ameaça real contra as autoridades vigentes, isto é, de querer usurpar os seus postos governativos ou fazê-los algum tipo de mal. Mesmo assim o Sinédrio, em conluio com a turba ululante e com a aquiescência do sanguinário governador romano (Lucas 13:1), declarou o Senhor Jesus culpado de blasfémia contra DEUS e consequentemente condenou-O à pena capital (Mateus 26:65-66; Marcos 14:63-64), contra todas as evidências legais. Aquele que nunca conheceu o pecado (2 Coríntios 5:21), o Amado Filho de DEUS (Marcos 1:11), foi reduzido a um malfeitor. E assim, de forma flagrante, a mentira triunfou momentaneamente sobre a Verdade. O mal silenciando o Bem. O ódio ofuscando o Amor. Somente por três dias... 

III. A Humilhação. Quando a injustiça reina nos corações das pessoas elas passam a ser extremamente insensíveis, susceptíveis de praticar as piores barbáries que excedem a lógica do bom senso e da razoabilidade. Foi o que aconteceu no caso particular do Senhor Jesus. Desde o Seu despótico julgamento, ferido de tremenda ilegalidade, até à Sua crucificação na Cruz do Calvário, foi exposto ao opróbrio dos homens, tendo sido injuriado, cuspido no rosto, levado punhadas, enquanto outros o esbofeteavam lançando sorte sobre as suas vestimentas (Mateus 26:67-68), inclusive um dos criminosos a troçar Dele (Lucas 23:39). O autor sagrado regista que “os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos que puseram na cabeça de Jesus. Depois colocaram-lhe aos ombros um manto vermelho. Aproximavam-se e faziam pouco dele: «Viva o rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas” (João 19.1-3). Uma passagem bíblica que coaduna com a profecia sobre a condição terrena do “Servo Sofredor” (Isaías 53:1-12). Este sofrimento e tremenda humilhação, a que foi sujeito para nos livrar da condenação eterna, encerrava toda a Verdade central do Evangelho: a salvação da Humanidade pecadora. Se o primeiro homem, por causa da soberba, almejou chegar à natureza Divina (Génesis 3:1-7), desobedecendo categoricamente às ordens expressas de DEUS, o Senhor Jesus, de forma inversa, abdicou da Sua natureza Divina e tomou a forma de escravo, “tornando-se igual aos homens. E, vivendo como homem, humilhou-se a si mesmo, obedecendo até à morte, e morte na cruz” (Filipenses 2:5-8). Viveu como escravo e acabou como se fosse um criminoso, encarando tudo isto com total obediência, com vista a honrar a vontade soberana de DEUS na Sua Vida. Aquele que é o obreiro de todas as coisas, o Alfa e o Omega (Colossenses 1:13-18), o Verbo de DEUS (João 1:10; 14), a Humildade em Pessoa  (Mateus 11:28), agora foi reduzido a um grau de insignificância como se de um marginal tratasse por causa do Seu infinito e incondicional amor para com os pecadores, amando-os até ao fim (João 13:1). Um autêntico paradoxo e “loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Por isso, “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2:9-11)

IV. A Morte. Chegado ao ponto fulcral da Sua missão salvífica, que é o inevitável sacrifício expiatório que Lhe esperava dentro de algumas horas, o Senhor Jesus manteve-se sereno até ao fim. Não cedeu às provocações e tentações que estava a ser objecto na Cruz (Marcos 15:29-32). Foi vexado e humilhado, escrevia o autor sagrado, “mas a sua boca não se abriu para protestar; como um cordeiro que é levado ao matadouro ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador, a sua boca não se abriu para protestar. Levaram-no à força e sem resistência nem defesa” (Isaías 53:7-8). Resistiu firmemente, tal como aquando da Sua tentação no deserto (Mateus 4:1-11). Não Se distraiu uma única vez do Seu verdadeiro intento. Teve ainda a amabilidade de pedir ao Pai para perdoar aqueles que estavam a trespassar-Lhe (Lucas 23:34), sendo deste modo coerente com a mensagem do amor e perdão que sempre pregou, sobretudo a de não pagar o mal com o mal e amar os inimigos, independentemente das circunstâncias favoráveis ou adversas a que se possa estar circunscrito (Mateus 5:41-44). É nesta postura congruente de amor incondicional que clamou com grande brado, dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lucas 23:46). Com a morte do Senhor Jesus estava tudo consumado. Está consumado a barreira de separação que outrora existiu entre DEUS e os seres humanos por causa do pecado. Definitivamente consumado (João 19:30). Em consequência disso, “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mateus 27:51-52; Lucas 23:45). A barreira de inimizade que separava o Eterno DEUS dos seres humanos foi agora dissipada, fazendo com que se iniciasse uma nova era de Paz e Reconciliação entre ambos, mediante o sangue expiatória do Senhor Jesus (Romanos 5:1-2; 2 Coríntios 5:17-19)

Não se pode, no entanto, falar de todos estes vexames que evidenciámos, e a série de outros que não foram enumerados aqui, sem falar da ressurreição do Messias. Depois de três dias retido na tumba o Senhor Jesus Cristo ressuscitou com a Força e o Poder de DEUS (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-10), apresentando-Se com provas irrefutáveis (1 Coríntios 15:5-8). Aleluia! Sem a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, tal como expressamente sustentava o Apóstolo Paulo, é vã a nossa fé (1 Coríntios 15: 12-18). A fé Cristã está alicerçada na morte e ressurreição gloriosa do Senhor Jesus, pois Ele ressuscitou dentre os mortos e foi feito as primícias dos que dormem (1 Coríntios 15:20). A humilhante e difícil “Via Dolorosa para o Calvário”, que teve duramente que enfrentar, passou agora a ser o caminho aconchegado e ideal do Perdão, do Amor, da Paz, da Reconciliação, da Esperança e da Vida Eterna em Cristo Jesus nosso Senhor e Salvador. Louvado seja DEUS eternamente! Que assim seja! E assim sempre será!