A Falsa Imagem Sex Symbol do Senhor Jesus Cristo


Sentimo-nos compelidos a tomar posição sobre as especulações de que o aspecto físico do Senhor Jesus Cristo tem sido objecto ao longo da História, máxime com o recente estudo publicado que veio deitar por terra o deslumbrante retrato da “Última Ceia” desenhado por Leonardo da Vinci, no séc. XV, que é comummente acolhido no mundo Cristão como sendo a fidedigna imagem do Filho de DEUS (LER). É verdade que não temos nenhum relato bíblico no Novo Testamento que nos indique os detalhes da estrutura física do Senhor Jesus, no entanto, e atentando cuidadosamente a uma leitura holística das Sagradas Escrituras, rapidamente conseguiremos apurar o que poderá ser a possível imagem do Messias. O Senhor Jesus, em abono da verdade, não era um homem “bonito” à luz dos padrões do decadente mundo, tal como prolifera na Sua falsa imagem comercial. Se fosse de facto uma pessoa bem-parecido os autores sagrados teriam destacado este pormenor, tal como fizeram com alguns heróis da fé, nomeadamente Moisés (Êxodo 2:1-2); Actos 7:20; Hebreus 11:23), José (Génesis 39:6) e David (1 Samuel 16:12)[1]. 

O Profeta Isaías, descrevendo a figura do “Servo Sofredor”, registou que “cresceu diante do Senhor como um simples rebento, ou raiz em terra árida sem aparências nem beleza para poder dar nas vistas. O seu aspecto não tinha qualquer atractivo. Era desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores e habituado ao sofrimento, e para o qual se evita olhar. Era desprezado e tratado sem nenhuma consideração” (Isaías 53:2-3). Na mesma esteira do pensamento, o Patriarca David descrevendo o Seu padecimento escreveu: “mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim” (Salmo 22:6-7). Estas descrições, e outras realidades subjacentes a Messias, ajudam-nos, pelo menos, a construir uma figura credível sobre a Sua aparência física. 

Desde logo, a encarnação do Filho de DEUS está visceralmente ligada à humildade e ao sofrimento. Humilhou-se da Sua natureza Divina e de tudo aquilo que superficialmente os seres humanos consideram como sendo o ideal, tomando a forma de escravo (Filipenses 2:5-8). Nasceu fora de Jerusalém onde residia a fina flor judaica em condições extremamente precárias e de uma família bastante pobre. Foi igualmente crucificado fora dos portões de Jerusalém com dois malfeitores (Hebreus 13:12; Lucas 23:33). Terá provavelmente exercido a carpintaria, até aos trinta anos de idade, uma profissão que não era da nobreza. Não tinha uma casa onde reclinar a cabeça (Mateus 8:20), bem como não desposou a ponto de ter filhos e deixar herdeiros. Um homem que vivia miseravelmente da esmola dos outros, mormente das mulheres, que, na altura, não tinham qualquer tipo de reputação social (Lucas 8:2-3). Não teve uma formação religiosa destacada, tal como a dos escribas e fariseus (João 7:15). Veio de uma região onde nem sequer havia um profeta (João 7:52) e, muito menos, se esperava alguma coisa de boa (João 1:46). Os seus discípulos eram genericamente pessoas desprovidas de cultura literária e das mais simples da sociedade judaica (Actos 4:13). A Sua doutrina não tinha um acolhimento favorável por parte dos seus incrédulos ouvintes, antes pelo contrário tamanha oposição (Hebreus 12:3; Isaías 49:73). Viveu aparentemente como um marginal e acabou condenado como se fosse um criminoso na Cruz do Calvário. Contudo, é este Homem desprezado, “irrelevante”“fracassado” e “mal-apessoado” aos olhos do mundo que habita toda a plenitude de DEUS “e foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades” (Colossenses 1:15-17). 

Se o Senhor Jesus desprendeu-se dos cobiçados “valores materialistas”, acabados de se mencionar, e de todos os reinos do mundo e a glória deles quando foi tentado pelo Diabo no deserto (Mateus 4:8-11), por que razão não podemos concluir também que abdicou da beleza física que foi sempre enfatizada desde os primórdios da Humanidade como sendo o sumo bom? E mais, a beleza física nunca foi condição sine qua non para agradar a DEUS. A mulher virtuosa exaltada nas Escrituras não é louvada pela sua beleza física, mas sim pelos seus excelsos atributos humano-espirituais (Provérbios 31:1-31), porque “enganosa é a beleza e vã a formosura” (Provérbios 31:30). Isto para salientar que os filhos da perdição é que dão demasiada primazia à imagem exterior, descurando o interior – o mais importante (Mateus 23:5; 27-28). 

Ser destacadamente atraente e bonito só por si não tem nenhum mal. É uma graça natural que DEUS confere especialmente a algumas pessoas, tal como acontece com outros dotes naturais. E pode perfeitamente ser conjugada com uma vida piedosa e sacrossanta. Temos exemplos manifestos disso nas Escrituras Sagradas, nomeadamente a devotada Rebeca que “era uma moça muito formosa, virgem, a quem nenhum homem havia possuído” (Génesis 24:16). A rainha Hadassa, também cognominada de Ester, “era muito bela, de corpo e de feições” (Ester 2:7). A predilecta de Salomão, a Sulamita, é descrita como “a mulher mais bela entre todas as mulheres (Cantares 1:8; 4:1-7; 6:4), somando os homens supra mencionados. O mal está em buscar a beleza exterior a todo o custo, concentrando toda a atenção e energia nela, expondo-se a determinados riscos prejudiciais à saúde – como fazem algumas almas presunçosas e narcisistas. Este leviano comportamento consubstancia uma errada noção da realidade que ainda hoje se apregoa sorrateiramente na nossa moribunda sociedade, que é na beleza física que reside a perfeição e a felicidade humana. E as pessoas fazem de tudo para se manterem “em forma”, a fim de despertarem a atenção especial de terceiros, especialmente de pessoas influentes para possíveis relacionamentos, expondo-se, inclusive, em casos extremos, à loucura de operações plásticas para se sentirem auto-realizadas. 

A Palavra de DEUS reprova claramente esta redutora mundividência e conduta, exortando-nos para uma vida consagrada e santificada. Os Cristãos são desafiados a sair do âmbito daquilo que todos pensam e julgam como melhor ou ideal, sobretudo dos padrões predominantes do “presente século mau”, para encontrar a luz Divina que conduz à salvação. É este sair do mundanismo que nos leva a concluir peremptoriamente que o Senhor Jesus não tinha sido um homem notoriamente bonito e, nem tão-pouco, fez questão de procurar tal efémero atributo. A imagem que se vende de um Jesus Cristo sex symbol é completamente falsa, visando apenas a locupletação, e sem qualquer tipo de sustentáculo bíblico. O Messias não tinha qualquer tipo de atracção física que despertasse a atenção neste sentido, razão pela qual foi manifestamente desdenhado pelos ímpios. 

A beleza que o Senhor Jesus dispunha era interior e que, infelizmente, continua ainda hoje a ser negligenciada em detrimento da momentânea beleza exterior. A beleza interior perdura para toda a eternidade, pois produz os frutos dignos de arrependimento (Actos 26:20), isto é, o amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança e o viver exclusivamente na plena dependência de DEUS (Gálatas 5:22). Esta beleza, sim, e de forma inequívoca, o Senhor Jesus dispunha e de sobra. Por isso, “Deus O elevou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobrem todos os joelhos: no Céu, na Terra e debaixo da terra; e para que todos proclamem, para glória de Deus Pai: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2:9-11). Que assim seja. E assim sempre será. 



[1] E, com isso, importa esclarecer que não estamos a fazer a apologia de que o Senhor Jesus era feio. Nada disso, uma vez que todas as criaturas de DEUS são todas primorosas, não obstante a mancha do pecado que veio subsequentemente deteriorar esta impoluta imagem. Mesmo assim, os seres humanos continuam a herdar a perfeita imagem e semelhança de DEUS (Génesis 1:27; 5-2; 1 Coríntios 11-7). Aos olhos do Eterno DEUS, ninguém é feio. Com efeito, tendo em conta “o pecado original” de Adão e Eva, algumas mulheres e homens passaram a ser mais destacadamente bonitos comparativamente aos demais – na distorcida e mundana visão do Homem. É nesta lógica secularista que analisaremos o título do artigo em apreço, procurando extrair com ele a verdade teológico-espiritual sobre a verdadeira beleza.