Piroga Fantasma (13): O Império da Futilidade


As nações são reflexos visíveis das sociedades que emanam. Da mesma sorte estas espelham a imagem dos seus respectivos cidadãos. Mede-se o calibre de um país mediante as pessoas que dele fazem parte. E a Guiné-Bissau não está fora desta inequívoca regra de apuramento. 

Por vicissitudes várias e supervenientes, mormente pelo esmagamento sistemático a que o nosso humilde Povo foi reiteradamente submetido ab initio, isto acabou por arrastá-lo forçosamente para um estado de letargia social e de série complexidades. E não estamos a falar de uma situação que surgiu acidentalmente, mas sim que foi propositadamente criada pela vileza moral dos sucessivos governantes (kabalidus) que conduziram os destinos sociopolíticos do país ao longo dos tempos. 

Há um vício maléfico e extremamente degenerativo que ameaça cada vez mais  a sociedade Guineense de forma galopante. Não há hierarquia de Princípios e Valores e as pessoas, tão-simplesmente, postergam-nos para segundo plano nas suas opções de escolhas. Ninguém respeita as regras estabelecidas, e muito menos preocupam-se em aplicá-las no seu quotidiano. Vende-se, facilmente, a dignidade a troco de qualquer preço com o intuito de sobressair rapidamente na vida. Os compromissos com a ética, a moral, a verdade exauriram-se. Perdemos a noção do respeito e do bom senso de uma sociedade que se preze. Não temos referências de pessoas que possam emergir como modelos inspiradores para a nossa carente adolescente-jovens. O modelo passou a ser o dos valores materialistas, traduzindo-se num completo relativismo moral, virado para a avidez do lucro fácil, na ostentação da riqueza, na corrupção generalizada dentro e fora do aparelho de Estado e no vício insaciável pelo poder. 

As nobres virtudes da honra, do respeito, da decência, da humildade, da dignidade, da honestidade, da tolerância  e de tudo aquilo que outrora foram as grandes Regras-Condutas norteadoras da nossa genuína sociedade foram postas em causa, sem que surgissem quaisquer alternativas credíveis para preencher o vazio das referências que foram obliteradas. E assim, de forma flagrante, a força vai-se sobrepondo ao Direito, o interesse à Verdade, o dinheiro à Consciência. Ipso facto assiste-se indiferentemente ao triunfo da futilidade, que nos direcciona cada vez mais para um precipício social irreversível. 

O grande desafio que se coloca neste momento à Guiné-Bissau é o da possibilidade de uma mudança drástica em todos os domínios da sociedade e, sobretudo, na sua mundividência e postura para encarar as elevadas exigências da pós-modernidade. O estado calamitoso que está patente aos olhos de todos remete-nos, sem excepção, para um cálculo objectivo, no sentido de readoptar medidas exequíveis a curto, médio e longo prazo a fim de expurgar definitivamente estes flagelos ameaçadores da nossa unidade, coesão e desígnio nacional.