Canto do Vigário


“De que vale um protesto sem causa? 
De que vale uma vírgula sem pausa? 
De que vale um momento sem nunca o sentir? 
De que vale uma ponte sem leito? 
De que vale uma luta sem ter peito? 
De que vale um abraço sem o repartir? 

Quantas vezes parar não é desistir... 
Só ficar a ouvir! 
Quantas vezes esquecer não é p’ra fugir 
Quantas vezes calar não é consentir... 
Só parar p’ra ouvir! 
Quantas vezes sorrir... (não é a fingir)! 

De que vale o avesso sem direito? 
De que vale o remédio sem efeito? 
De que vale ter a força sem o arremesso? 
De que vale a partida sem destino? 
De que vale o ninar sem ter menino? 
De que vale o final sem o começo?”[1]  


[1] In Canto do Vigário.